A obra própria de Fernando Pessoa foi também uma obra alheia, ou melhor, alheiamente sua, pois uma parte dela foi atribuída a outros. Pessoa compreendeu desde muito cedo que se cada actor de uma peça dramática se convertesse num autor – e só uma letra separa estes dois universos contíguos –, então essa peça seria como um quarto com múltiplos reflexos (cf. «Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos»).

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Assinatura de Alberto Caeiro

Autor múltiplo, autor de autores, autor que costumava escrever com «a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo», Pessoa deu existência a pelo menos 136 autores fictícios, três dos quais os denominados «heterónimos» (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis), um termo que surgiu em 1928,quando Pessoa imaginou que a sua obra se pudesse dividir em ortónima e heterónima (veja-se a «Tábua Bibliográfica»).

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Assinatura de Álvaro de Campos

a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo

Esta secção está menos dedicada à teoria do heteronimismo – note-se que Pessoa nunca utilizou a palavra heteronímia, criada pela crítica – do que a práctica do heteronimismo. Daí que interesse dar a conhecer as tarefas e os textos associados a cada heterónimo ou autor fictício, e que convenha lembrar que Pessoa, que abandonou a palavra «pseudónimo», não opôs hetero‑, que significa diferente, outro, a homo‑, que significa semelhante, igual, mas a orto‑, que expressa uma noção de propriedade e que se pode traduzir por recto, justo ou verdadeiro (cf. «heterodoxia» e «ortodoxia»).

As informações desta secção dependem da investigação que fez possível o livro Eu Sou uma Antologia: 136 autores fictícios (Lisboa, Tinta-da-china, 2013; 2.a ed., 2016).

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Assinatura de Ricardo Reis

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Assinaturas de diversos autores fictícios.